Dissecando o Volta, Björk.

(by novo)
“I love to sing in the wind, in the rain, during a storm, at sea, on a lava flow... me against the elements.” (“Amo cantar ao vento, na chuva, durante uma tempestade, no mar, num córrego de lava… eu contra os elementos.”)
- Björk.
- Björk.
Revisando o fluxo de albuns da Björk encontramos de tudo, menos constância. Sim. Imprevisilibidade é o nome de noite da Björk. E quanto mais idealizamos um novo álbum, mais nos vemos enganados quanto ao resultado final. Quem imaginaria que Medúlla (álbum em que Björk explorou, apenas, seu melhor e mais treinado instrumento: a voz) foi o que foi? Voz como fosse mil instrumentos. Minimalismo às avessas (ao contrário de Vespertine, o qual foi minimalismo real acrescido de celestialidade). Dou o braço a torcer quanto os inegáveis dance hits que vieram do Debut, por exemplo, ou Björk sofomêra em Post: promíscuo em colaborações porém muito sincero, como diz Björk definindo seu segundo álbum enquanto se refere ao Volta. Seu novo álbum, segundo ela em entrevista para a Dummy Magazine, pode ser designado em várias percepções como Post II.


Cada álbum da Björk não é apenas uma obra prima musical, a Islandesa sempre nos dá ótimos colírios, encartes quase vivos que refletem muito bem a música do disco. Além do encarte, todo álbum é tratado - fotos e vídeos - com características bem específicas e diferentes de seus antecessores. Para relembrar: no Debut, Björk ganhou o apelido de pixie (elfa) por causa do estilo das caras e bocas e do peculiar cabelo (aqueles dois coques pequenos em cada lado da cabeça), no Post, Björk volta com uma imagem mais forte, mais delineada como alguém que veio pra ficar, Homogenic trouxe a Björk eletrônica, capa, encartes e fotos que demonstram bem os sentimentos intensos do CD. Vespertine a aura gelada, fotos e encartes dignos de Cruz e Souza: brancos, alvos, celestes. Medúlla veio com um tom negro, preto como nanquim, preto como cabelo, levando o ouvinte para a parte mais interna do ser humano, fisicamente. DR9 com os típicos experimentalismos de Matthew Barney. E finalmente Volta com o tema pagão, tribo humana, cheio de cores vibrantes.
O que mais se destaca no tratamento gráfico do Volta são as cores, definitivamente. A forte presença do vermelho como cor principal do álbum concede um clima de turbilhão, alternância aleatória. Björk nos traz - segundo suas próprias definições - com a estátua da capa uma imagem de uma deusa eletrônica gaia que volta para a Terra com a intenção de fazer justiça. As fotos e o fogo do encarte foram trabalho da dupla já conhecida dentro das criações de Björk, Inez Van Lamsweerde & Vinoodh Matadin – tudo isso direcionado pela equipe de design da M/M Paris que também foram os responsáveis pela arte do Vespertine e do Medúlla.
Miss Björk desde o começo estatizou que queria um álbum robusto, para quebrar o ritmo dos albuns sérios que criou desde a época pós-Homogenic. Junto à música descontraída (Björk tentou focar em percurssão essa vez, segundo disse à Pitchfork) soma-se um imaginário potente, complexo em suas composições musicais, denso e alegre. Alegres também, as maquiagens usadas pela Björk no photoshot do encarte, inspiradas da obra de Antje Majewski, ah, a roupa de crochê utilizada no mesmo shot foi feita pela ILC (Iceland Love Corporation), uma corporação islandesa direcionada à arte, produz desde música até trabalhos em tecido.









Um hit! Dançante até dizer chega! Outra faixa que conta com as batidas criadas por Timbaland, uma das músicas mais pop do disco. Innocence foi o centro das atenções durante um concurso que Björk promoveu para que os fãs criassem um clipe para a música. Single prestes a ser lançado, dia 23 deste mês - capa ao lado. Fala sobre medo/coragem, de como um pode levar ao outro.


Passional, assim que gosto de definir essa composição com ares orientais reminescentes das experiências não-ocidentais de Björk em Drawing Restraint 9. Com a colaboração de Min Xiao-Fen tocando Pípá (foto), instrumento de cordas chinês diferente, parece um violão, porém com o corpo mais circular e bem maior. Uma balada com versos bem marcantes: “when you and I have / become corpses / let's celebrate now / all this flesh on our bones”




Inspirada por uma personagem de “O Labirinto de Pan” e isolada por uma pneumonia que durou duas semanas, Björk escreve uma melodia auto-reflexiva, de Björk para Björk, sobre o isolamento que ela se submeteu algumas vezes (incluindo o causado pela doença), sobre “todos os momentos em que devia ter abraçado / todos os momentos em que não devia ter se fechado”. Música construída apenas com trompas (foto), lenta, voz se sobrepondo ao metal. Melancólica e lapidada.


Björk entra num ramo não muito explorado em suas músicas, o de cunho sócio-político. Hope trata de balançar diferentes tipos de ‘males’ relacionados ao terrorismo. Ponderando entre mulheres bombas grávidas e não grávidas. Música que gerou um pouco de polêmica no fórum oficial (4um.bjork.com) devido ao tema. Aqui vemos, ao invés de uma orientalidade já vista em I See Who You Are, uma ‘africanidade’, o kora, um instrumento de 21 cordas bem típico do oeste africano, tocado, no álbum, por Toumani Diabaté (foto).


Música com sonoridade semelhante a essa só tivemos em 1997, com Pluto, em Homogenic. Agora Björk nos dá um griteiro só, eletrônica pesada clamando por independência! Feita em dedicação aos habitantes das Ilhas Feroé, pois o país está como colônia ainda! Björk disse que essa música tem dois sentidos, o social e o cômico, social ao que tange pátrias, descolonização, e cômico quando alguém decide “declarar independência” própria, por que, imaginem gritar “DECLARE INDEPENDENCE! DON’T LET THEM DO THAT TO YOU!” é um tanto radical para declarar emancipação pessoal. Foi escolhida como single subseqüente a Innocence.



"Dissecando o Volta, Björk" is licensed under a
Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Vedada a Criação de Obras Derivadas 3.0 License.